Células-tronco crescem em laboratório pela primeira vez

Pesquisa em desenvolvimento foi publicada no mês de maio pela revista Nature, uma das mais conceituadas do mundo.

 

Pela primeira vez, cientistas conseguiram reproduzir em laboratório as células-tronco. A informação foi publicada na edição de maio da revista Nature, uma das publicações científicas mais conceituadas do mundo. A possibilidade de essa técnica se tornar mais frequente ainda é uma incógnita, mas apresenta bons prognósticos para o futuro da medicina.

As células-tronco são as células primitivas do corpo humano, produzidas durante a formação do organismo, capazes de dar origem a outras células. Elas podem ser obtidas por diversos métodos, entre eles a partir dos embriões recém-fecundados (sejam eles criados por fertilização in vitro ou com finalidade de pesquisa).

Por terem um poder autorreplicativo, cientistas acreditam que podem utilizá-las para que produzam cópias de si mesmas, sendo vistas como elementos-chave para identificar formas de cura de doenças genéticas ou, ainda evitar que outras doenças se proliferem, como é o caso do câncer.

 

Independência de doadores

“Essa é uma grande descoberta”, explica Carolina Guibentif, pesquisadora da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. Segundo ela, se for possível desenvolver células-tronco em laboratório de forma segura e em números suficientemente altos, a dependência de doares diminuiria.

Em um adulto saudável, as células-tronco do sangue são encontradas na medula óssea, onde elas são responsáveis pelos suprimentos de glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. Essas células desenvolvidas em laboratório poderiam ser utilizadas para o tratamento de pessoas com doenças sanguíneas e leucemia. Elas poderiam ainda ser utilizadas para criar sangue para as transfusões.

Quando essas células não funcionam corretamente elas não conseguem levar um suprimento adequado para as células sanguíneas. Em razão disso, não há oxigênio suficiente para todos os tecidos do corpo. Essa falha pode casar doenças graves caso órgãos como o coração sejam afetados. As células estaminais podem ser eliminadas do corpo por meio de quimioterapia, em casos de leucemia e outros tipos de câncer.

As pessoas com esses distúrbios tendem a ser tratadas com medula-óssea de um doador saudável. A dificuldade maior é de encontrar uma que seja compatível. Em teoria, as chances de se conseguir uma delas a partir de um irmão saudável é de uma em quatro, mas no caso de células obtidas a partir de um estranho, a possibilidade de sucesso passa a ser de uma em um milhão.

 

 

 

Literalmente, fazendo células

Na tentativa de criar células-tronco em laboratório, o pesquisador George Daley, da Harvard Medical School, juntamente com os seus colegas, começou pelas células-tronco pluripotentes humanas, ou seja, aquelas que têm o poder de formar qualquer outro tipo de célula corporal. A equipe procurou produtos químicos que pudessem estimulá-las a se tornar células-tronco do sangue.

Depois de estudar os genes envolvidos na produção os pesquisadores identificaram proteínas que controlam esses genes e os aplicaram às células-tronco. Depois de testar muitas combinações eles encontraram cinco compatíveis e fizeram com que essas células-tronco trabalhassem para se transformar em células-tronco do sangue.

Essas células foram colocadas posteriormente em camundongos e eles passaram a produzir novos glóbulos vermelhos, glóbulos brancos e plaquetas. “Estamos muito entusiasmados com os resultados, é muito legal”, afirma Daley. Ainda segundo o pesquisador, após o primeiro grupo obter esses bons resultados, um segundo grupo foi criado, em outra localidade, para testar a mesma técnica.

Foi a vez de Raphael Lis e seus colegas, no Weill Cornell Medical College, de Nova York, retirarem células das paredes dos pulmões dos animais, seguindo a ideia de que células semelhantes em um embrião foram, possivelmente, as primeiras células-tronco do sangue do corpo. Os resultados obtidos pela equipe indicaram quatro fatores que poderiam fazer com que essas células-tronco se reproduzissem da maneira esperada.

 

Pesquisa em células-tronco: um grande passo à frente

Os resultados de ambas as pesquisas representam um grande avanço para a medicina, futuramente para Telemedicina também. Trabalhando em células epiteliais de ratos adultos, Lis e sua equipe demonstraram que a façanha poderia ser alcançada por meio da retirada de células de uma pessoa adulta. Já a equipe de Daley usou células-tronco humanas que, em teoria, poderiam ser feitas a partir de células da pele. Com isso, cresce a expectativa que o sangue humano feito em laboratório seja o próximo passo.

Apesar dos avanços significativos, Daley deixa claro que as células-tronco feitas em laboratório ainda não estão prontas para serem usadas em seres humanos. O pesquisador explica que, embora os testes com ratos tenham sido satisfatórios, ainda existe a possibilidade de essas células, que não têm núcleo, possam se modificar e causar câncer.

Contudo, uma vez que o procedimento for aprimorado, essas células podem ser capazes de criar plaquetas e glóbulos vermelhos para uso hospitalar. A estimativa do pesquisador é de que leve pelo menos mais dois anos para que esse estágio possa ser alcançado.

“Eventualmente esperamos que essas células possam ser usadas para criar sangue total, adequado para transfusões. Se esse nível for atingido, o fornecimento seria mais confiável do que aquele obtido pelos doadores, além de ser completamente livre de doenças”, explica George Daley.

 

Pesquisas em muitas localidades

O exemplo das pesquisas realizadas nos Estados Unidos e na Inglaterra são apenas dois entre tantos que estão em desenvolvimento no mundo na atualidade. Apesar de o tema ser bastante controverso, com muitas polêmicas girando em torno das pesquisas com células-tronco, muitos países se mostraram mais permissivos a esses testes.

No Brasil, é permitida a utilização de células-tronco obtidas a partir de embriões humanos para fins de pesquisa e terapia, desde que sejam embriões considerados inviáveis ou estejam congelados por mais de três anos. Em todos os casos, entretanto, é necessário o consentimento dos doadores.

 

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