Radioisótopos na medicina: o que esperar desta tecnologia

Esterilização de tecidos, autonomia na produção nacional de radioisótopos e novos radiofármacos: saiba quais são as novidades desse setor

Você já deve ter visto alguma reportagem sobre o uso da pele de tilápia no tratamento de queimaduras. Essa técnica 100% nacional representa uma verdadeira revolução, mas talvez você não saiba que ela só é possível devido ao uso dos radioisótopos na medicina.

A pele da tilápia-do-nilo é um material de altíssima qualidade e muito resistente, e sua estrutura microscópica é semelhante à da pele humana, de forma que ela pode ser usada na regeneração dos tecidos queimados.

No exterior, esse tratamento é feito com curativos produzidos com pele humana e de porco. No Brasil, porém, utilizam-se recursos importados de alto custo na rede privada (prata nanocristalina e peles artificiais) e uma pomada antimicrobiana na rede pública.

Essa pomada precisa ser utilizada até a completa regeneração do tecido lesionado (12 a 25 dias) e os curativos precisam ser trocados a cada 2 ou 3 dias. O problema é que esse é um processo muito doloroso para o paciente.

Já pele de tilápia costuma ser aplicada apenas uma vez, podendo ser usada até o fim do tratamento. Inclusive, devido às quantidades de uma proteína fundamental para a cicatrização (colágeno do tipo 1), a pele desse peixe é melhor do que a de porco usada no exterior.

As pesquisas com a pele de tilápia estão quase chegando ao fim. Porém, segundo o cirurgião plástico Marcelo Borges, que idealizou essa novidade, ela não seria possível sem o uso dos radioisótopos.

Antes de ser aplicada na queimadura, a pele de tilápia precisa passar por um processo de esterilização para eliminar vírus, bactérias e fungos, mas sem que isso afetasse a qualidade do tecido. E a solução para isso foi com a irradiação com gama cobalto-60.

Esse, porém, não é o único avanço da medicina relacionado aos radioisótopos que estamos prestes a testemunhar.

Esterilização de tecidos para transplantes

Assim como a pele de tilápia, os tecidos humanos que serão utilizados em transplantes também podem ser tratados com radioisótopos para destruir bactérias e vírus (como o da Aids e hepatite C) e reduzir as chances de rejeição pelo receptor.

 

Atualmente, o Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares) utiliza a irradiação em ossos triturados e desmineralizados, que são empregados em transplantes ortopédicos e odontológicos, e está desenvolvendo uma pesquisa com a irradiação de tendões.

Outra novidade é a irradiação da membrana amniótica, que será utilizada como base de cultivo para células pela engenharia tecidual.

Produção de radiofármacos no Brasil

Os radiofármacos são essenciais para o diagnóstico de problemas de saúde como obstrução renal, embolia pulmonar, infecções agudas, infarto do miocárdio e demências.

Além disso, eles são os melhores recursos para a detecção e análise do câncer, pois permitem a identificação de características como o tipo e o tamanho dos tumores, contribuindo para a definição do melhor tratamento para cada caso.

Porém, desde 2009 o Brasil está enfrentando dificuldades para adquirir os radioisótopos utilizados em 80% dos procedimentos de medicina nuclear devido à paralisação do reator canadense que abastecia o mercado nacional, o que prejudica imensamente o setor.

Contudo, há uma boa notícia: trata-se da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB), que tem inauguração prevista para 2022. O projeto está sendo desenvolvido no Centro Tecnológico da Marinha na cidade de Iperó, no interior de São Paulo.

Hoje, o Brasil conta com quatro reatores nucleares, sendo que o mais potente tem 5 megawatts. Enquanto isso, o projeto do RMB prevê uma potência de 30 megawatts, formando um polo tecnológico para o desenvolvimento de pesquisas nucleares.

Atualmente, o país gasta cerca de US$ 18 milhões para importar os radioisótopos necessários para suprir a demanda anual de 2 milhões de procedimentos, o que encarece e aumenta o tempo de espera do tratamento e do diagnóstico de diversas doenças.

Assim, um dos usos previstos para o RMB será a independência do país na produção dos radioisótopos, de modo a gerar uma economia muito significativa em relação à saúde pública e também uma ampliação na disponibilidade dos serviços, com redução das filas.

Embora os pesquisadores envolvidos no projeto se queixem da falta de verbas públicas, uma boa notícia ecoou em março deste ano, quando o Ministério da Saúde assinou um acordo para o repasse de R$ 750 milhões para o desenvolvimento do RMB

Você também pode gostar de: Indicações da radiação em saúde.

Novos radiofármacos PET

Outra novidade relacionada aos radioisótopos na medicina é o desenvolvimento de três novos radiofármacos emissores de pósitrons (utilizados em exames de tomografia PET-CT), marcados com as moléculas flúor-18, iodo-124 e gálio-68.

Atualmente, o traçador PET mais utilizado na cardiologia, neurologia e oncologia é o fluordesoxiglicose (18-FDG), marcado com o flúor-18. Porém, o 18-FDG pode ficar impregnado em tumores benignos e focos de inflamação, o que gera resultados falso-positivos.

Assim, a pesquisa com um novo radiofármaco marcado com flúor-18 visa desenvolver um traçador específico para o câncer, aumentando a exatidão dos exames. Hoje, estão sendo desenvolvidos o 18-FLT para tumores cerebrais e o 18-F-colina para tumores de próstata.

O iodo-124, por sua vez, está sendo pesquisado como marcador do iodeto de sódio, para o diagnóstico de câncer da tireoide, e da meta-iodo-benzil-guanidina, que é utilizada na cardiologia.

 

Os estudos mais avançados, porém, são os do gálio-68 como marcador da etileno-dicisteinaglucosamina (68Ga-EC-DG), que está sendo empregado em testes pré-clínicos com animais na investigação da atividade metabólica dos tumores.

Além disso, os pesquisadores estão utilizando esse radioisótopo para o desenvolvimento do 68Ga dotatante, que visa o diagnóstico de tumores neuroendócrinos, e o 68GA-PSMA, com aplicação na detecção precoce do câncer de próstata.

Dessa forma, as novidades em relação aos radioisótopos na medicina vêm somar ainda mais aos recursos que já estão no mercado, como a telerradiologia utilizada pela DiagRad, que permite a emissão de laudos a distância.

Assim, enquanto são desenvolvidas todas essas inovações nos laboratórios de pesquisa, os pacientes se beneficiam diretamente ao ter mais conforto e rapidez na hora do diagnóstico, o que é essencial para sua qualidade de vida.

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